domingo, 7 de janeiro de 2018

A BEM SOADA GENTE



Em 2007 a Roma Editora lançou cá para fora “A Bem Soada Gente”, de Flávio Vara, natural de Rio Frio – Vimioso.  Este transmontano de rija têmpera é um escritor primoroso. Mordaz, perspicaz e erudito, Flávio Vara zurze em gente sonante da nossa praça, sem apelo nem agravo. Fê-lo em 2007 à gente que compunha o bando que patrulhava o país. Satírico, Flávio é ousado na denúncia dos disparates que todos os dias acompanham o banquete da aldeia lusa. Aí têm Literatura a sério, neste pequeno livro que retrata uma realidade passada (e presente), do qual, entre tantas (ou todas) seleccionámos esta pérola:

Flávio Vara
SINISTRA DA EDUCAÇÃO

Ei-la a dona Mariazinha,
Ar de pãozinho sem sal;
Para moça de cozinha
Só lhe falta o avental.

Começou por nos brindar
Com uma das suas flores,
Ao excluir da República
A Madeira e os Açores.

Depois a substituição
Das aulas por umas graças
Foi genial invenção
Que nem lembrava ao caraças.

Mas inda pior do que essa,
Mais gratuita e irresponsável,
Que mostra que está possessa
Ou que é inimputável,

Foi aquele sem asserto,
Decerto demonológico,
Que banir os crucifixos
É um acto pedagógico

Totalmente “capturada”
De uma sádica vesânia,
Insensível, obstinada,
Dá largas à sua insânia.

Ela fez dos professores
Inimigo principal
Pra descarregar sobre eles
Sua osga figadal.

E não contente com isso,
Sem réstia de pudicícia,
Quer que os papás dos fedelhos
Colaborem na sevícia.

Mas qual foi a intenção
De porem como ministra
Uma tal aberração
Entre o sonsa e o sinistra?

Ó povo, toma cuidado
Para que não te distraias,
Que o demo anda disfarçado
E até se veste de saias!
(pp. 31-32)


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