sábado, 8 de agosto de 2015

A Europa – Origens (2)

                                Tempo Caminhado: A Europa – Origens (I)

                                     Na imagem: Vitória de Samotrácia

Com naturalidade, os indo-europeus deram origem a uma civilização, na qual se irá alicerçar todo o pensamento europeu: a civilização grega.
De um passado guerreiro, heroico e nobre contado por Homero, os Gregos avançam para o mundo do pensamento.

Nos seis séculos que decorrem desde Agamémnon a Péricles, os Gregos Antigos estabeleceram colónias desde a Crimeia, onde Orestes encontrou Ifigénia, à Cólquida, no extremo do Mar Negro, onde Jasão encontrou Medeia e o Velo de Ouro, até às margens orientais do Mediterrâneo. Neste período, no Dodecápole da Jónia (a fiada das doze cidades antes de Atenas), nasceram poetas como Anacreonte (570.a.C.) e filósofos como Tales (600 a. C.). E 300 anos antes de Platão, nasceu em Éfeso Heráclito, o precursor da teoria da evolução, exposta em apótemas enigmáticos, ao qual não foram alheios Hegel, Darwin, Spencer e Nietzsche. Em Lesbos nasceu a poetisa Safo no ano de 612 a.C., em Samos, nasceu Pitágoras (580 a. C.) e em 594 a.C, já com 45 anos de idade, surge na política grega uma personagem notável, Sólon. Que obteve o compromisso entre ricos e pobres num período de grande conflito, com os pobres a pedirem maior redistribuição de riqueza.  Os mais ricos dos ricos dizia, “não são maiores do que aqueles cujos únicos bens são o estômago, os pulmões e os pés, que lhes proporcionam alegria, não dor” (Will Durant). Ideia que será enriquecida no famoso elogio fúnebre de Péricles (n. 492 a. C.), transcrito por Tucídides. E que orientará a democracia então surgida. Porque a partir de Péricles se desenvolverão as bases de todo o pensamento Ocidental. É neste período (na denominada época clássica), que os Gregos se afastam do simples empirismo, ultrapassando as explicações míticas da religiosidade do saber do tempo de Homero (o tempo Antigo), para o desenvolvimento extraordinário do pensamento racional. E ao procurar explicar as coisas, interrogando-se, nasce a Filosofia como uma actividade que abrange todo o tipo de saberes. Que maior contribuição do que esta poderia a Europa ter? Nenhuma, porque esta é a base, o alicerce superior da cultura europeia.
E como a Filosofia, para os Gregos, abarcava todos os saberes, seria fastidioso enumerar os contributos destra civilização na ciência (área de saber que é preciso dominar, para conhecer, a singularidade europeia), na governação, na arte, na literatura, na religião, na ética, etc. Mas não deixamos de mencionar um contributo extraordinário, o da ciência. Numa área concreta – a geometria. É um sistema simples, elegante e lógico, aprendido por etapas. Cada assunto é demonstrado a partir do que ficou estabelecido na etapa anterior. Ou seja, as respostas haviam de ser simples e lógicas (e matemáticas). Como as de uma criança. A este propósito lembramos uma passagem de Platão (Timeu, 22b) sobre o dito de um sacerdote egípcio muito idoso (de Saïs) a Sólon [embora se referisse às “coisas do passado”]: “ Sólon, Sólon, vós, Gregos, sois sempre crianças; velho, um Grego não o é”. Tanto Newton, como Einstein afirmaram séculos depois o que os gregos já haviam dito. Só estaremos perto de uma resposta certa se a nossa resposta for simples. Este é um dos maiores legados que a Europa deve aos Gregos.
É certo que as reminiscências dos indo-europeus estavam lá. Basta lembrar Aristóteles (cujo pensamento foi predominante na cultura europeia durante 1500 anos) que em termos de governação preferia a timocracia (governo pela honra), uma combinação de aristocracia e democracia, onde o sufrágio se restringiria aos proprietários e a numerosa classe média seria o eixo da balança do poder. Tanto ele como Platão entendiam que a democracia degenerava sempre em anarquia, porque não era o governo dos melhores, mas sim da multidão. E é esta a questão. O sentido de aristocrata, neste tempo, já não é o do indo-europeu – o de melhor pela sua linhagem, pela sua nobreza de sangue, de nascimento. Será o melhor pela qualidade da sua virtude, pela sabedoria da sua alma. São várias as referências de Aristóteles (e de tantos outros) ao mérito, como este é referido no elogio fúnebre de Péricles. Não interessa que se seja rico ou pobre, mas “bom”.
Péricles elevou este pensamento à altura das estrelas: “… qualquer um pode distinguir-se de acordo com o seu mérito na vida pública. A classe a que cada um pertence tem menos importância do que as suas qualidades pessoais; para quem deseje servir a cidade, nem a pobreza, nem o facto de ser de baixa condição constituirão impedimento” (Tucídides transcrito por Violaine Vanoyeke).
O que se transcreveu desse elogio memorável (e aquilo que se não transcreveu, como por exemplo as qualidades como a generosidade), é aquilo que constitui a alma europeia, que no futuro o Cristianismo desenvolverá com outras “roupagens” (mas também com outro aprofundamento) numa mescla da cultura grega e da cultura romana, próxima etapa destas origens europeias.
Armando Palavras

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