DANIELE CAMPBELL |
Quem na sua juventude não
mandou um piropo a uma mulher jovem bonita? Vulgo, “gaja boa”? Quem nunca
susteve a respiração, por segundos, no metro, no comboio, no autocarro, no
cinema ou no restaurante, com a presença de uma mulher bela? De beleza
extenuante?
Um piropo significava um
galanteio para uma mulher bela. Uma “brasa” para o vulgo. Os piropos
rosqueiros, eram objecto de critica, assim como o seu autor, da masculinidade
em presença. Por vezes eram objecto de duas ou três lambadas por parte do irmão
da beldade. Mas a maior parte das vezes eram engraçados, até sedutores.
Quantas mulheres belas
sorriram, envaidecidas, com um piropo bem lançado? Algumas chegavam mesmo a
desafiar a masculinidade, provocando-a subtilmente – um lance elegante na
calçada com meias próprias torneando pernas proporcionais; um esticar de seios;
uma mexedela de bunda, ou um sorriso maroto.
Hoje, de uma forma
indecente, o piropo é classificado de assédio sexual. Assédio sexual não é nada
disto, contém outros pressupostos. Um dos mais conhecidos episódios de assédio
sexual (neste caso feminino!) é o protagonizado pela esposa de Potifar e Josué (Génesis 39: 3-9)
Pintura de Guido Reni |
Um piropo (decente)
pertence sim, a uma atitude de sedução, de galanteio. E não a esta doutrina
totalitária.
KATE SEPENCER |
Por este andar, ainda
hão-de proibir a boa literatura. Porque está repleta de episódios que, aos
olhos desta censura totalitária, são próprios de assédio sexual. A começar pela
literatura erótica oriental. Se na do Ocidente o erotismo se desenvolve entre o
ódio puro e o puro amor sublime tornado sacralidade, que já existia na Grécia,
tendo-se acentuado na tradição judaico-cristã, no Oriente, na China como na
India, existe há milénios uma rica literatura erótica culta e refinada.
Demonstra-o na Índia a difusão do Kamasutra (talvez do século III d.C.) e na
China os inúmeros clássicos do erotismo, já difundidos durante a dinastia Han,
onde o erotismo é sempre tratado com metáforas poéticas delicadas. O romance
clássico de Li Yu “O Tapete Carnal de Oração”, é disso exemplo.
Já no Ocidente o erotismo
aparece, pela primeira vez na Europa medieval em Boccacio e Chaucer, com
simplicidade ordinária. No século XVIII surgem os libertinos franceses. Apenas
dois exemplos, onde se exclui o Marquês de Sade: Vivan Denon e Jean François de Bastide.
LARISSA MACIEL |
Nos anos 30 do século
passado, Henry Miller e Anaïs Nin, descrevem abertamente a realidade erótica,
superando o tabu do sexo. As suas descrições são duras. Como o são as de Arsan
em “Emanuelle”. Já nos anos 60 e 70 do século XX o faz Lidia Ravera, seguida
mais tarde por Erica Jong e Catherine Millet.
E poderíamos ir por ai
adiante. Pela pintura, pela dança e pelo canto. Ou por Bocage e Petrónio.
Quem se não lembra da
história da bela Helena contada por Homero? Ou do poema bíblico “Cântico dos
Cânticos”?
Que belos são os sonetos
de Camões sobre Dinamene, ou Tin Nam Men, a jovem chinesa que lhe arrebatou o
coração luso além da Taprobana.
E que dizer de Laura
cantada
em Rerum vulgarium fragmenta, por
Petrarca?
Dante cantou Beatriz e
Bocaccio, Giovanna d'Aquino.
Hoje seriam censurados
por esta doutrina totalitária, que nos mostrou o Holocausto, o Gulag e o
deserto de Góbi.
Que dizer da poética dos
trovadores medievais e de Fernando Pessoa que dirigiu certas cartas a Ofélia
Queiroz?
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