sábado, 27 de janeiro de 2018

O intocável ministro, a mulher e a sogra


BARROSO da FONTE
O governo de António Costa faz que anda mas desanda. Foi engenhoso em chegar ao poder, depois de uma estrondosa derrota. Ganhou a José Seguro de maneira desleal. Mas perdeu contra Passos Coelho, humilhação que deve ter provocado um desafio assassino para si próprio: ou construía uma forma ardilosa de afastar Coelho ou estaria condenado a morrer para a política.
Jogou ao tudo ou nada. E, embora se tenha valido de um golpe baixo, conseguiu, praticamente sozinho, fintar tudo e todos, seduzindo aquilo que parecia impensável à maioria dos eleitores: a adesão das esquerdas radicais. Espantosamente, para gáudio pessoal, somou uma vitória que fez doutrina europeia.
A esquerda hipotecou os seus valores por um prato de lentilhas. Mas os resultados foram favoráveis aos seduzidos e aos sedutores. Muitos deram a cambalhota ideológica que virou a prática ideológica do futuro. O lamiré viera da Grécia através das sereias: Catarina Martins e as manas Mortágua. O PCP aprendeu com a adesão bloquista. E a esquerda toda teve - ainda - a seu favor, o populismo do PR que surpreendeu tudo e todos, ao prescindir dos cerimoniais, protocolares, para exercer uma original diplomacia que lhe está no sangue e que converteu os mais descrentes.
O governo ganhou um jackpot amealhado de semanas a fio. Com Ramalho Eanes ou Cavaco Silva não funcionaria. Com as esquerdas Marcelo funcionou, porque não deu ouvidos aos eleitores que o elegeram, convenceu os cépticos e mantém, hoje, uma certeza: para a recandidatura não haverá oposição, ou, se a tiver, será apenas para beneficiar dos privilégios que o estatuto confere ao (s) candidato (s).
 Após um ano de experiência o país está anestesiado. Os sindicalistas perderam o pio, as greves continuam, mas não se dá por elas, os saneamentos políticos fazem-se em surdina e deixou de falar-se no júri nacional que fora escolhido pela cor dos olhos e não pela competência e pela isenção. Mesmo que se mudem os técnicos por correligionários, a máquina funciona mesmo sem combustível, porque não há liberdade de pensamento, os contestatários arrumaram as bandeiras, as buzinas e as caravanas e, vive-se na paz pobre que o PR não deixa alastrar, seja de noite ou de dia.
Os aumentos chegaram antes do ano novo. As (falsas) promessas fizeram-se e acertaram-se quando o PS noivou com as esquerdas. António Costa governou como quis, com quem quis e com a rédea solta de que precisava. Anestesiou, dentro e fora do Parlamento, as altercações que aqueciam as fábricas e a via publica. Acenou com aumentos aos pobres e com o descongelamento das progressões, em serviços vitais. Verdadeiras atrocidades morais porque nem as máquinas administrativas estavam preparadas, nem as contas haviam sido feitas, para que na hora certa, essas atrocidades políticas fossem cumpridas. Nas três primeiras semanas do ano, já todas as classes barafustam, todos os reformados e pensionistas viram subtraídas as verbas com que contavam e os aumentos e as progressões nas carreiras vão ficar para o ano das eleições.


A par disso alguns ministros que deveriam demitir-se ou ser demitidos, continuam a semear broncas, como Vieira da Silva, que nem falar sabe; e com outros, como o seu ex-Secretário de Estado da «Raríssimas» que mentiu descaradamente, ficando de boca aberta, em pleno diálogo com a Jornalista que «o despediu» por indecente e má figura. A verdade é como o azeite.
Os hospitais atingiram bloqueios como poucas vezes se havia visto. O Ministro da Saúde leva dois anos de desentendimento com classes vitais, como são os enfermeiros e os médicos. E o ministro da educação não foi capaz de resolver a tão badalada promessa da recolha dos manuais escolares, episódio que até um qualquer tarafeiro resolveria, perante a facilidade que o governo anunciara em relação ao seu reaproveitamento.

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