BARROSO da FONTE |
«O 13 de maio ainda é o
que era. Se calhar, nunca foi tão avassalador como este. O centenário das
aparições em Fátima na presença do Papa? Benfica a caminho de um inédito tetra?
Salvador Sobral na iminência de mais um brilharete no Festival da Eurovisão? Tudo
a 13 de maio? Os três F (futebol, fado e Fátima) de outros tempos reganham
força em 2017, só com uma pequena substituição musical. Os portugueses vão
voltar a estar bem entretidos neste sábado, com vários tipos de emoções ao
rubro, de manhã, ao final da tarde ou à noite. Assim não se perde pitada».
Esta questão foi colocada
por Gonçalo Palma, ao meio dia de 12 do corrente, no seu blogue. Na noite do
dia 13, tudo se tinha cumprido: Fátima
foi o palco mundial, dignamente programado, os dois mais jovens Santos da
Igreja Católica, foram canonizados na terra em que nasceram, o Papa regressou,
sem qualquer incidente; e os dois feitos naturais que se seguiram nesse mesmo
dia - : a vitória do «tetra» para o Benfica e o triunfo de Salvador Sobral, no
festival da Eurovisão, foram tão surpreendentes que levaram muita gente a
interrogar-se sobre se tão invulgares sucessos, na mesma data, ato contínuo à
despedida do Papa Francisco, ainda naquele clima emocional do Santuário
Mariano, não seriam sinais (ou hierofanias = manifestações) do divino.
Não sou teólogo, não sou
exemplo para ninguém sobre a minha religiosidade, sou crente, a religião que
professo dá resposta às minhas dúvidas e, depois de tantos fracassos pessoais e
comunitários, sempre esperei que um dia fosse surpreendido por qualquer sinal,
vindo do alto.
Mais me convenci deste sortilégio pela paz
interior que as imagens de Fátima me tocaram: a felicidade de ver tanta gente,
irmanada, vinda de tão longe e em condições tão adversas, que nenhum
conselheiro humano, por mais convincente que fosse, seria capaz de exercer em
mim ou noutros como eu, influências tão fortes e tão generosas. O fato de ver e
ouvir o Bispo de Fátima, António Marto, anfitrião dessa moldura humana, sendo
ele um Transmontano (de Tronco, Chaves), que foi meu condiscípulo seis anos
(entre 1957 e 1962) reconfortou-me tanto, esse orgulho telúrico e humano que eu
próprio partilhei essa gratidão interior que terá sido extensiva aos antigos
alunos do Seminário de Vila Real.
Recordo aquilo que essa minha geração viveu.
Por sermos oriundos de famílias numerosas e sem rendimentos, não podíamos optar
pelos liceus e escolas públicas. A alternativa eram os seminários. Essa
diferença social refletia-se pela vida fora. A classe livre e a classe pobre.
Aquela refugiava-se na liberdade de nada lhe faltar para «cultivar» o sinal
distintivo que os superiorizava no estatuto académico e profissional. Esta
sujeitava-se à seleção natural: uns «marravam», eram zelosos e impunham-se pelo
saber e pelo cumprimento rigoroso da disciplina interna. Outros transigiam e,
aqui ou ali, davam sinais de insegurança pelo que iam abandonando.
Pertenci a este número.
Mas nunca me arrependi, antes mantive pela Instituição, pelos professores e,
sobretudo pelos meus condiscípulos, total solidariedade, admiração e respeito.
Gilberto Canavarro
Reis,(1951), Amândio Tomás (1955) e António Marto (1957) prosseguiram estudos e
ascenderam, por mérito próprio, a Bispos. Ainda estão todos vivos e,
felizmente, com saúde. São o nosso orgulho, como tantos outros que ocuparam
altos cargos na Jurisprudência, nas cátedras universitárias, na administração
de empresas, no funcionalismo e até na política ativa. Nenhum de nós tem
complexos de inferioridade. Antes prestigiaram sempre, a Instituição que nos
preparou para a vida e à qual anualmente regressamos, no 3º Sábado de Maio.
Sempre que um antigo aluno aparece em público e o localizamos, logo torcemos
por ele, para o bem ou para o mal. Felizmente, como agora aconteceu, com o
Doutor António Marto, ao vê-lo a abraçar o Papa Francisco e a falar para cerca
de um milhão de presentes e a muitos milhões de católicos de todo mundo. Aquele
sotaque e aquele sorriso que as televisões mostraram, é como se aquele
fortíssimo abraço ao Papa e ao mundo também fosse nosso. Eles nos representam.
Nós deles nos orgulhamos!
Mas não devemos confundir a religião com o
clubismo. A festa do Benfica é trivial. Venceu, justamente, mais um campeonato.
E ainda há-de vencer mais. Mas, embora as televisões tenham ofuscado a grandiosidade
do 13 de Maio, com o Tetra do «Benfiquismo», nada de comparável com a
universalidade de Fátima. E nem sequer com a Vitória, mais que merecida de
Salvador Sobral, no Festival de
Eurovisão. Este feito foi enorme, já tardava e tudo o que se possa confundir
com mais um milagre de N. Senhora de Fátima é pura fantasia. Aceita-se enquanto
modelo de grandeza e de pioneirismo. Entre 1956 e 2017 já houve 61 festivais da
canção. Este que ocorreu dia 13 de Maio, foi pura coincidência. Mas para
Portugal valeu – isso sim – por termos andado mais de meio século a brincar aos
festivais da canção. Salvador Sobral e a irmã Luísa, venceram pela sua
simplicidade, pela certeza de que fizeram o melhor que sabiam e, perante 18
países a atribuírem a classificação máxima a Portugal, foi feito que nunca
qualquer outra canção ou outro qualquer país concorrente havia conseguido. E
por isso valeu a pena.
Trago este tema à praça pública para
glorificar as consciências que andam empedernidas, açaimadas e raivosas, na
tentativa de branquearem o que foram, o que são e o que valem. Em qualquer
parte do planeta como em Terras de Barroso.
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