PEDRO CORREIA |
A asneira anda cada vez mais à solta nas redacções. Sem revisores de textos, sem editores com capacidade ou competência para detectar erros, com jornalistas cada vez mais impreparados, os periódicos debitam disparates a uma velocidade estonteante.
Paulo VI e Salazar: fotografia do Século
Ilustrado, Maio de 1967
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Escreve o semanário fundado por
Francisco Pinto Balsemão - em prosa anónima - que em 1967, quando pela primeira
vez um Papa visitou Fátima, "o ditador recusou encontrar-se com Paulo VI,
depois de o Papa ter recebido, em Roma, representantes dos movimentos de
libertação das ex-colónias portuguesas".
É difícil escrever tantos disparates em
tão pouco espaço. Bastava o anónimo escriba do Expresso dedilhar na Rede
para logo lhe aparecerem imagens do encontro entre Salazar e Paulo VI, que
aliás forçou o então Presidente do Conselho a deslocar-se à Cova da Iria pela
sua recusa de visitar Lisboa. Uma dessas imagens, muito conhecida, ilustra este
texto.
De resto, jamais Salazar poderia
irritar-se com a audiência papal aos dirigentes dos movimentos africanos
(Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos) pois já estava fora do
poder quando esse encontro ocorreu, a 1 de Julho de 1970 - mais de três anos
após a vinda de Paulo VI a Fátima e precisamente 26 dias antes do falecimento
do fundador do Estado Novo, substituído em Setembro de 1968 por Marcelo
Caetano.
Se algo ainda pode conferir utilidade
aos jornais é a capacidade de nos transmitirem conhecimentos ou avivarem a
memória. Mas como poderá isso acontecer se as redacções andam cada vez mais
ignorantes e amnésicas?
ADENDA: Toda a peça é lamentável, começando pelo título. Salazar
não "deu" tolerância de ponto: decretou o dia 13 de Maio de 1967
feriado nacional. Como é do conhecimento generalizado, um feriado dispensa
do trabalho muito mais gente do que a tolerância de ponto, destinada aos funcionários públicos.
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