quinta-feira, 18 de maio de 2017

Augusto Santos Silva, Salvador Sobral e a RTP


João Miguel Tavares - Público

O ministro dos Negócios Estrangeiros louvou ontem a vitória de Salvador Sobral no Festival da Eurovisão, num artigo de opinião no PÚBLICO onde cruza a crítica musical arguta com a subtil análise política. “Não se trata apenas de celebrar uma vitória nacional”, escreveu Augusto Santos Silva, “mas o modo como foi conseguida”. É um facto: os irmãos Sobral apresentaram-se com uma canção que qualquer pessoa com décadas de Eurovisão diria não ter quaisquer hipóteses, por ser pouco festivaleira – este equívoco torna a vitória de ambos ainda mais meritória.
Mas se Santos Silva percebeu bem a singularidade musical da canção, não resistiu depois a transformá-la numa singularidade lusitana, no sentido em que Salvador Sobral cantou em português, afirmou o seu talento individual e rompeu com a “lógica comercial, do marketing, da uniformidade e do monolinguismo” que dominava a Eurovisão. Como de costume, assim que nos apanhamos a vencer não resistimos a pregar ao mundo. Ora, se é verdade que Salvador Sobral demonstrou, como era seu desejo, que “a música não é um fogo-de-artifício”, também é verdade que ele e a sua irmã foram dois magníficos trunfos de marketing nos últimos meses – por causa da simpatia e espontaneidade de ambos, por dominarem um apreciável conjunto de línguas, e porque o próprio Salvador é uma personagem fascinante, que extravasa a dimensão estritamente musical. Sim, é verdade que ele é um intérprete notável e um justo vencedor, mas a vitória na Eurovisão não se deve apenas à sua singularidade enquanto intérprete – pelo contrário, deve-se à construção altamente profissional de um caminho que permitiu que essa singularidade se manifestasse.
Para citar a filosofia do Benfica: há o Jonas, e há a estrutura que o sustenta. Sendo ministro deste governo, é pena que Augusto Santos Silva não tenha tido uma palavra de apreço para a RTP, para Nuno Artur Silva, para Gonçalo Reis, e, já agora – pequena provocação política –, para Miguel Poiares Maduro, que em 2013 teve a coragem de desgovernamentalizar a RTP. Essa desgovernamentalização teve como consequência a promoção de gestores competentes, que por sua vez puderam convidar para o seu lado pessoas mais interessadas em fazer boa televisão do que favores ao governo. (Note-se: não tem a ver com o facto de Poiares Maduro ser do PSD; tem a ver com o facto de ser independente, como ainda agora se viu na FIFA. Enquanto Miguel Relvas tutelou a comunicação social a desgraça foi a mesma de sempre.)
Embora eu considere que a RTP tem um custo absurdo para o país, não nego as mudanças positivas que se têm vindo a verificar. Melhores profissionais têm melhores ideias, e uma delas foi a renovação do Festival da Canção, com a contratação de consultores como Nuno Galopim, que é daqueles que sabe não só o nome da canção do Luxemburgo na Eurovisão de 1984, como quantos pontos teve. São estas pessoas, apaixonadas pelo seu trabalho, que perceberam que a melhor forma de renovar o festival seria convencer os melhores compositores portugueses a participar – e foi desse convite que surgiu Amar pelos Dois. Aquilo que importa dizer sobre a vitória portuguesa é menos “Salvador Sobral é único” e mais “trabalhámos com um profissionalismo que não se via há muito e o investimento compensou”. Os irmãos Sobral criaram uma grande canção, com certeza. Mas sem as boas ideias de profissionais competentes e independentes na RTP, não teriam chegado a criar coisa alguma. 
Jornalista


Comentário:
Chegada da Troika a Portugal em 2011
Este cavalheiro, o sr. Augusto Santos qualquer coisa, pertenceu aos dois governos que levaram o país à BANCARROTA; que destruíram profissionalmente milhares de cidadãos - principalmente na Educação com aquela srª Maria de Lurdes e qualquer coisa. E que instalaram a prerrogativa mais FASCISTA alguma vez implantada - o congelamento das carreiras. Que ao sr. Nogueira (de um certo sindicato) pouco ou nada tem interessado, porque não foi apanhado pela medida FASCISTA!


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