JORGE LAGE |
Cláudio Carneiro (CC), nascido em
Chacim – Macedo, é um dos escritores trasmontanos vivos que representa o sonho
de «ser alguém» dos trasmontanos. Era assim que o meu sábio pai me dizia, ainda
eu não tinha entrado na escola primária: - quero que vás estudar para seres
alguém. O meu irmão mais velho, Manuel Eugénio, que foi para mim como um
segundo pai, mal fiz a quarta classe fazia uma pressão enorme comigo, sempre
que me via a brincar, em vez de ter um livro na mão. Mas, o CC não teve a minha
ponta de sorte e só ao cumprir o serviço militar fez a quarta classe de aulas
regimentais. Com o serviço militar feito na Índia (das Cidades-Estado que
deviam tornar-se independentes e não ser colonizadas pelos indianos, segundo a
opinião do nosso grande vulto, Adriano Moreira) prossegue os estudos liceais e
matricula-se em Direito, que não chega a completar. Tem publicados seis livros,
divididos por poemas, contos e romance. Está representado em antologias transmontanas
e tem mais cinco títulos a aguardar oportunidade de publicação. Não é fácil um
escritor provinciano publicar, eu que o diga! O CC publica, agora, «O Despertar
da Alma Portuguesa in sonetos», na Chiado Editora, com 320 páginas.
Inicialmente, inclui depoimentos do saudoso vulto da nossa cultura regional
Cónego Belarmino Afonso; de Adriano Moreira, que em carta da Academia das
Ciências de Lisboa, a propósito do «excelente» livro, «O Sacerdote Adriano
Botelho», de CC, lhe diz: «(…) é notável. Fico-lhe devedor pelo enriquecimento
que o seu trabalho representa, não apenas para mim, para a nossa comunidade
(…); do António (Pires Cabral), seu conterrâneo, que, lhe diz em tom de
intimidade: «(…) as tuas «Reminiscências de Olvido» (…) foi uma das fontes de
abonações do meu dicionário “Língua Charra”»; Barroso da Fonte diz-lhe que «O
Cláudio é hoje, de entre os sonetistas (…) em Portugal, um dos mais primorosos
praticantes nacionais.» Segue-se correspondência com Carlos d’Abreu, bem como
um texto meu, prosseguindo com Fernando Mão de Ferro e o «Prefácio», de Altino
M. Cardoso, muito bem conseguido e que encerra referindo que «os Valores são
graníticos – como pedras centenárias de calçada ou de altar – por onde perpassa
o vento profético da Pátria e da Família, em cuja memória se celebra o dom da
intimidade com o Destino.» Resta-me lembrar que o CC tem raízes maternas em
Vila Nova das Patas – Mirandela. Os imensos sonetos, deste seu novo livro,
distribuem-se por «Diversos», «Os Reis» (de Portugal), «Os Navegantes», «Os
Notáveis», «Os Ínclitos Trasmontanos» - com poemas a diversas personalidades,
como o nosso Jorge Golias, a saudosa Ana M.ª Calado e, por generosidade,
inclui, também, Jorge Lage; «As Cidades» (de Portugal), «As Romarias» (as mais
importantes para ele), «A divindade» (sobre diversos episódios bíblicos), «A
Farsa da Democracia», «Traição» (dos «ladrões do povo), «Pátria», «As Aldeias»,
«Os Campos» e «Serras, Rios e Povo» (incluindo a serra de Bornes e o rio Tua).
Para os quiserem conhecer melhor a arte de poetar do CC e os que gostam de
sonetos, aconselho o livro, «O Despertar da Alma Portuguesa». Não é fácil
publicarem-se livros sobre o interior rural e muito menos de poesia, como se
aventurou o CC, que felicito, pela obra e agradeço a gentileza que teve em
incluir um texto meu e, generosamente, me dedicar um poema que não mereço. No
final desta página transcrevo um seu poema dedicado a Mirandela. O livro pode
ser pedido a claudioamilcarcarneiro@gmail.com ou a geral@chiadoeditora.com .
Provérbios ou
ditos:
Domingo de Aleluia deitam-se castanhas à
rua.
Em Março merenda o pedaço; em Abril
merenda o merendil.
A união do rebanho obriga o leão a
deitar-se com fome.
Dois exemplos de combatividade cultural
ResponderEliminarAcabo de ler esta judiciosa recensão ao mais recente livro do Cláudio Amílcar Carneiro, criteriosamente feita pelo inquieto e imparável Dr. Jorge Lage. Não sei qual destes dois Ilustres Transmontanos mais devo reverenciar. Cada um deles, é ao seu nível, do melhor que temos. O Cláudio Carneiro (que recentemente perdeu sua amada e inspiradora Musa), é um marceneiro inimitável e um psicólogo pertinaz, sobretudo no soneto biográfico. Em quantidade não conheço nenhum outro que o suplante a descrever, pessoa a pessoa, extraindo metáforas, traços psíquicos, físicos e éticos. Cada herói do ciclo daqueles que Cláudio elege para tema de mais um soneto, o Poeta de Chacim que, tardiamente ascendeu ao pódio, fica com a certeza de que é mais uma peça cinzelada por, dentro e por fora: é, em suma, uma figura humana, em movimento contínuo. Mas não brilha somente no poema. Um poeta completo usa dois estiletes simultâneos: um em cada mão.
O Historiador e oficial superior das n/ Forças Armadas, ainda que miliciano e quase esquecido de si mesmo, que é Jorge Lage, desde há décadas. entrou na órbita da Cultura Portuguesa, congregando um saber acumulado que em muitas das tribunas mediáticas (jornais e blogues) pulveriza a opinião pública, que se habituou às reflexões formativas e informativas. Se vozes públicas como a de Jorge Lage não alertassem, com a persistência com que o faz, nessas tribunas que cada vez são menos intensivas (pelo encerramento da imprensa escrita), muitos autores e artistas passariam despercebidos. As televisões e as rádios nacionais são, exclusivas para os espantalhos de Lisboa, Porto e arredores que sobem aos palcos alheios, E como em Portugal só é bom quem desfila pelas televisões, rádios nacionais, Expresso e Jornal de Letras, temos uma crise com muitas crises acumuladas, mormente nas áreas da competência, da artes, das letras e das ciências.
Parabéns ao Cláudio e ao Jorge Lage porque são exemplos de como a Província sobrevive segregada, mas resoluta para a combatividade que vai continuar, cada vez mais feroz, mais antidemocrática e mais tirana. Barroso da Fonte