O
PSD
– A comissão distrital do PSD aprovou a candidatura da dra. Teresa Leal Coelho
à Câmara de Lisboa por vinte e tal votos contra um. Não me admira nada, só me
admira que esse único discrepante não fosse imediatamente fuzilado. Os chefes
mandam hoje nos partidos como quem manda em regimentos e deviam abandonar os
títulos com que se ornamentam pelo título genérico de “coronel”, como
antigamente no Brasil. Era mais sincero e exacto. A obediência é, do PC ao CDS,
a grande virtude do militante e, como dizia Lee Atwater, o lendário conselheiro
de Reagan, o segredo do sucesso está em “não se fazer notado, fazer-se de parvo
e ir sempre andando”.
Mas não há críticos do PSD? Há: os
defuntos partidários (Pacheco Pereira) e os generais reformados (Marques
Mendes, Santana Lopes e Manuela Ferreira Leite, todos ex-presidentes daquela
desaustinada agremiação). Isto dá vontade de morrer, como Bulhão Pato inventou
que Herculano tinha dito perante um espectáculo parecido? Às vezes, dá,
desculpem.
Copos
e mulheres
– José Manuel Fernandes foi o único a perceber que o comentário do sr. Dijsselbloem era um comentário
de calvinista. Infelizmente, acabou aí. Mas vale a pena continuar. Garton Ash
já pediu em público aos seus amigos Merkel e Schäuble que não tratassem a crise
do Euro como “um ramo da teologia” e, para uso dos zoilos, também já explicou
que esta perversão vem das profundezas da cultura alemã. Em alemão a palavra
para orçamento (do Estado, por exemplo), Haushalt, significa simultaneamente
“casa de família” ou, se quiserem, “lar”, um termo em desuso mas talvez mais
exacto; e que a palavra Schuld quer dizer ao mesmo tempo “dívida” e “culpa”.
Garton Ash acrescenta que na imprensa e na televisão se chama habitualmente aos
países do Sul “pecadores fiscais”.
Lá do outro lado, Max Weber deve estar a
rir-se das críticas que lhe fizeram. Afinal parece que há mesmo uma divisão
profunda, de que ninguém se atreve a falar, entre a Europa protestante, onde o
capitalismo encontra um leito macio, e a Europa católica (Portugal, Espanha,
França e a maior parte de Itália – a Grécia ortodoxa por definição não conta),
onde a Igreja por séculos e séculos habituou as gentes à irresponsabilidade
pessoal e à dependência do padre, do bispo ou do cardeal, e onde o capitalismo
encontrou um ambiente áspero e um Estado absorvente. Richard Tombs, um
historiador de Cambridge especialista em história francesa, escreveu a semana
passada que não existia no mundo um país tão anticapitalista como a França.
Esqueceu-se de Portugal.
Quanto aos “copos e mulheres” do sr.
Dijsselbloem, que aqui foram recebidos com hipócrita indignação, não passam de
uma transparente metáfora para a classe média em larga medida inútil e
parasitária que a democracia criou e para os serviços sociais que ela não pode
de toda a evidência sustentar. Nestes apertos nós somos verdadeiramente
católicos, esquecemos os nossos desvarios como quem se confessa e, apagando o
passado ou até mesmo o presente, consideramo-nos honestos e limpíssimos.
Jorge
Sampaio
– Conheço este antigo Presidente por dentro e por fora desde os vinte anos. Mas
nunca o julguei capaz de descer tão baixo. O segundo volume das memórias desta
medíocre criatura, que tem todos os privilégios da praxe (uma grande pensão,
gabinete de quatro ou cinco pessoas, escritório, automóvel e motorista), foi
para meu espanto e até escândalo financiado pelas seguintes entidades: BPI,
Fundação Oriente, Fundação Luso-Americana, Grupo Visabeira (ou seja, um grupo
económico privado), Instituto Português de Relações Internacionais da
Universidade Nova, PT e Mota-Engil. Esta indignidade de um homem em quem
milhões votaram é um insulto para o país. E ainda há quem fique perplexo com a
corrupção do PS. Previno já que vou ler e escrever sobre as ditas memórias com
a maior repugnância.
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