BARROSO da FONTE |
Nascida em 1905,
em Lisboa, nos últimos tempos da Monarquia, «tem-se portado como o movimento
dos planetas, ora em processo de regressão, ora em processo de progressão», nas
palavras do último presidente da Assembleia Geral Jorge Valadares.
Tem a idade que teria meu Pai se fosse vivo. E
eu que já estou na idade com que ele morreu, significa que essa Instituição já
prestou relevantes serviços à Comunidade que ela representa e ao mundo da
Lusofonia. Ela fez com que o seu exemplo fecundasse outros projetos semelhantes
quer no país, quer na Diáspora, onde os Transmontanos chegaram, em busca de
novos mundos e da sua própria sobrevivência pessoal e familiar.
Em Portugal ainda hoje funcionam as Casas do
Porto, Coimbra, Guimarães, Braga, Tomar, Algarve e Viana do Castelo. Umas estão
em plenitude, com sede própria, como Lisboa, Porto e Braga. Outras pagam renda
como Guimarães e Coimbra e outras têm espaços reservados, onde regularmente
confraternizam e tomam decisões. Penso que é esse o caso de Tomar, Viana do Castelo
e Algarve.
Em Luanda (Angola), funcionou em instalações
próprias, o Clube Transmontano que foi o ponto de Encontro de muitos
Transmontanos que iam do «puto» ou por lá andavam a precisar de apoio. No
Brasil há diversas casas e núcleos, em S. Paulo e no Rio de Janeiro. Nos
Estados Unidos existe a Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro em Newark. E também
em França existem diversos núcleos, uns mais ativos do que outros, mas todos
com fins solidários com as pessoas e com as terras de origem. Foi da Casa-Mãe de Lisboa que, em 1920 e em 1941, se realizaram os dois
Primeiros Congressos de Trás-os-Montes, que tiveram por palco cidades dos dois
distrito de Bragança e de Vila Real. Em 2002 voltou a realizar-se o III, mas já
com a envolvência de todas as Casas Transmontanas do continente que, anos
antes, fundaram a Federação das Casas Regionais. Ato que decorreu na congénere
do Porto. Esse Congresso reuniu, cerca
de 1.200 participantes, para o que também a Associação dos Municípios que tinha
sede em Murça, delegou no Presidente da autarquia de Bragança, Engº Jorge Nunes
que foi o grande obreiro desse acontecimento. Se no I congresso teve Óscar
Carmona, Presidente da República, a presidir, também o III teve Jorge Sampaio,
em idênticas funções. Neste Jornal e em toda a imprensa regional de
Trás-os-Montes e Alto Douro, entre 1980 e 2002,
pugnou-se porfiadamente por
esse evento, cujas conclusões têm vindo a cumprir-se. Retomando a razão do
título desta crónica cabe-me saudar a equipa dos 16 heróis que – finalmente - aceitaram
prolongar a história desta centenária instituição regionalista, tomando posse
dia 13 do corrente. Pelo que lemos na imprensa e nas redes sociais, foi muito,
muito difícil encontrar Transmontanos com garra para reanimar a Casa-Mãe de
Lisboa.
Recém eleito Presidente da Casa Transmontana de Lisboa Dr. Hirondino Isaías |
A sua sede já passou por vários espaços. Até
que mudou para o Campo Pequeno, para um terceiro. Por alturas do centenário a
Casa tentou construir um prédio de raiz e chegou a ter terreno próprio na zona
de Belém, junto ao Tejo. Através do Jornal da Casa fez-se uma campanha de
angariação de fundos para essa construção. Só que a morosidade e o desânimo de
quem pensa dominar as situações, é mais forte do que os dominados. E o terreno
de Belém acabou por regressar à Câmara de Lisboa, por troca com um edifício
para reconstrução. O novo presidente incluiu no seu programa o IV congresso
Transmontano. Foi um dos compromissos do III. Já passaram 15 anos.
O III Congresso Transmontano distanciou-se 61
anos do II. Quase tanto tempo como a média de vida de uma pessoa normal. Embora
tenha sido, provavelmente, a maior manifestação conjunta de Transmontanos em
torno da ligação ao berço daqueles que o tornaram possível, só decorreu com o
sucesso que ninguém pode negar, graças às Casas Regionais e ao indesmentível
entusiasmo de algumas Câmaras Municipais. Volvidos quinze anos quase ninguém
mais falou ou escreveu sobre ele. Há uma honrosa exceção que não sendo,
jornalista profissional, nem dispondo de muito tempo para aflorar este tema,
foi o ex-autarca de Bragança, Jorge Nuno que no Jornal Nordeste, de Bragança,
assinou numa sequência de quatro extensos relatos que foi pena não serem
reeditados em livro próprio, com mais alguns elementos históricos que servissem
de ponto de partida para os mais novos que nos anos, entretanto decorridos, já
esqueceram.
Foi ele que deu a cara para que outros
saíssem da sombra. Quase sempre é assim: uns têm ideias, arriscam com todas as capacidades pessoais e
profissionais e lançam-se às feras. Os mirones espreitam e, quando notam
que essa aventura vai dar mediatismo,
atiram-se de pés e mãos e arrogam-se à liderança dessa fama. Em cima do
acontecimento podem os observadores aperceber-se
de que houve
aproveitadores dessa empreitada. Passados alguns meses, os obreiros que
mereciam palmas voltam ao silêncio do quotidiano. Os espontâneos partem para
outras empreitadas, em busca de mais sucesso alheio que faz deles os reizetes
de todas as manifestações do povoado.
Ocorre-me mexer numa proposta que ficou de
realizar-se alguns anos depois, numa quarta edição.
Já passaram quinze
anos. A nova direção da Casa-mãe de Trás-os-Montes, com sede em Lisboa, desde
1905, relançou a ideia. Como fiz parte da comissão organizadora do III,
gostaria muito de ver essa promessa cumprida durante o quadriénio em curso.
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