quinta-feira, 2 de junho de 2011

O QUE É TER SAUDADES DE BENGUELA…..?

Crónica de
João Sá Pinto

Saudades de quê??? ?

                              
Acácias rubras - Luena
        Do Velho “Calonger” da Água do Huche? Do Pimentel Ferro Velho que ensacava algas para vender como medicamento? Do “Albaninha” que passeava de sapatinho branco e meia branca e aos saltinhos em frente ao Monumental de Benguela antes do cinema de Sábado à noite? Do Pereira da CMB que punha a motorizada a trabalhar no quarto para matar os mosquitos? Do Joaquim da Benamor que comia os tremoços e deitava as cascas para o chão?
Do Góia que passeava de bicicleta com calções e meias altas brancas? Das velhas Pirolitas que fizeram queixa na Judiciária por lhe chamarem esse nome? Do Portinhas que era examinador de cartas de condução e não tinha carta? Do Oliveira Maqueiro e do Pepino? Do Chimico que morreu duas vezes? Do Matrindinde e do Picado que andavam à chapada nos jogos de futebol da Lupral? Do “Leão da Metro” que nadava todos os dias entre a ponte cais nova e a velha? Do Miau do Portugal de Benguela? Do Isaías Pedroso da Silva que punha os convidados na rua no meio dos almoços? Do Pimpão e do Zé Nabo? Do Dr. Espadarte que dizia tinha na Equimina um filão de Aço? Do “Topa Tudo” que foi para fiscal de caça?  
Benguela - Vista geral, c. 1968

Do Fotocrime que cortava as cabeças nas fotografias dos casamentos? Do Padre Galhano que falava de futebol na missa? Do Velho Norton que tinha mais de 50 filhos? Do Velho Antas que envenenava os cães da rua? Do Ginha Faro que fazia máquinas de tirar finos com bombas de encher pneus? Do Julião que pescava corvinas com um metro entre olhos nas pontes cais? Do Rei do Gesso e do Padre Horácio? Dos irmãos Xindiquto os maiores “blindados” de Benguela? 

Hotel Mombaka, c. 1968
 Do polícia Rodrigues que dava rebuçados aos putos ? Do sempre vermelho polícia Teixeira? Da Maria das Corvinas que andava de Solex? Da Velha Cló que foi professora de várias gerações? Do Camões fotógrafo que mandava parar as procissões quando a máquina de filmar encravava? Do Emílio Marta com o seu GT40 ou do Viola com o seu Lamborguini? Do António Freitas que era sobrinho das Pirolitas e tinha a alcunha de Ministro do Trabalho? Do “Pisa Bananas” que era caçador profissional? Do professor Calças que criava carneiros no Cavaco? Do Estanqueiro que pilotava o velho avião “Piper” do Aeroclube de Benguela e que era também instrutor de condução? Do arquitecto Santiago Caximbeta? Do enfermeiro Mário Santos que diziam que era maricas assim como o “ Maria Albertina”? Do Alfaiate Sampaio e as suas histórias das caçadas dos elefantes? Do Cabral que ia buscar as filhas à porta do Liceu por causa dos passarões? Do Eurico Lopes de Almeida com o seu Mini Cooper S? Do “Michelin” e o seu “Volvo Marreco”?

Palácio do Governador, c. 1968
 Do Caldeira das bombas de gasolina que era pai da “esquimó” ? Do Dr. Espinha que dava consultas no Bar Tropical? Do Bar do Ferreira que começava a assar sardinhas às 6 da manhã ?  Do Nogueira dos “Cafés Lima” que comeu 26 pregos, 6 quilos de gambas e bebeu 90 finos no Bar do Ferreira? Do Abel dos caixões que quando passava por nós baixávamo-nos à sua passagem para que não nos tirasse as medidas? Do Oliveira Maqueiro e do Mesquita Kodak? Do Padre Teixeira e das suas “Beatas”? Do Xicoamanga das suas “fífias” quando tocava? Do Fantasma do Asa Negra e da Mulher de Branco? Da Casa assombrada do Aviário de Santa Filomena? Do Zé Mendonça que dava pancada na polícia? Do Colaço do Bar do Porta-aviões da Praia Morena onde jogávamos matraquilhos? Do cabeleireiro Abrantes e do seu Cadillac? Do barbeiro Monteiro que nos ia cortar o cabelo a casa? Da Barbearia Montes onde se punha as notícias em dia? Da Tabacaria Rex onde comprávamos os cromos para as colecções? Da Diva da “Farmácia Nova” que concorreu a Miss Benguela? Do Dr. Azeredo que comia charutos no Bar Guimarães? Do Pinto Candongueiro que era o Jack Pallance de Benguela? Do Zé Bala que no Paraíso dos Macacos matou um “Catuiti” com uma lamesga?

Edificio da Associação Comercial, c. 1968
 Do “ Lenga-lenga” que anunciava por altifalante da sua carrinha os produtos que vendia? Da onça do Jaquelino ou do Chimpanzé do “ Tanque Humano” que quando abria a porta de casa, afastava-se para que os espíritos que andavam com ele entrassem em primeiro lugar? Das alemãs do colégio alemão que nunca nos ligavam puto? Do VCC na Rua 5 de Outubro onde eu, o Rafael, o Joca e o João Espinha nos reuníamos ao fim da tarde? Do “Tan-Tan” onde o José Alberto Machado tomava o seu galão a meio da tarde? Do Colégio das Madres onde fazíamos o concurso de quem conseguia entrar e dar a volta à estátua e sair sem ser apanhados? Da “Casa das Pechinchas” do Agripino Fonseca onde havia sempre troco? Do bombeiro Esperança que salvou muitas vidas e nunca foi reconhecido? Do Orlandini que dava espectáculos em Play-back no cine Monumental? Do Adriano que vendia lotaria? Dos gelados “ Cá e Lá”onde íamos mais vezes por causa de quem lá trabalhava do que propriamente dos gelados? Da Pastelaria Castália onde paravam as melhores miúdas de Benguela? Do Rodrigues Cambuta da Epal que dizimou as cabras de rabo de leque? Do Cine Esplanada Kalunga onde, quando não tínhamos dinheiro para o bilhete, víamos os filmes empoleirados nas árvores? Do Fialho do Café Porto e do seu papagaio malcriado? Do “ King of Petróleos que tinha 10 fatos Saratoga? Do  toureiro “Cardozito”que fugia dos touros? Das festas da Nossa Senhora da Graça do pessoal de Manteigas e da festa da Nossa Senhora dos Navegantes dos Madeirenses da Mampeza? Da “Docélia” o restaurante em frente ao Cine-Benguela que fazia aos Domingos “frango à cafreal”?

Edificio da Cãmara Municipal, c. 1968
 Do Quim Zé da Binga que encontrou a avioneta perdida com os dois ocupantes já falecidos? Do chefe da polícia Menezes que andava sempre com uma “chibata”? Do Dinis da “Redil” que vendia calças “La Finesse” ? Do Guerra que se vestia de escocês para fazer apostas nos torneios de tiro aos pratos ? Do Nuno de Menezes com as suas crónicas no Rádio Clube de Benguela? Do padre Manuel da Casa do Gaiato? Do “ Cabo Submarino” onde fiz exame de admissão à Escola Industrial de Benguela? Do “ Paraíso dos Macacos” e os seus motoqueiros? Do campo da “Companhia Indígena”, o nosso Wembley, onde jogávamos futebol? Do “Kapuita” e do “Castendo”  que vendiam  roupa de Macau? Dos amigos, colegas de Escola e de Liceu? Dos meus alunos?

Ter saudades de Benguela é ter saudades de tudo isso e do tempo que lá vivi…..

18 comentários:

  1. Já li este post muitas vezes. Mas hoje, a propósito de um outro publicado no Delito de Opinião, onde também escrevo, tive muita vontade de o ler de novo. O meu avô Pinto da Rocha tinha uma recauchutagem (creio) em Benguela. E mais que uma vez ouvi referências do meu pai (António Rocha) ao Oliveira Maqueiro. E ao Raul Indpwo e ao Rui Jordão.

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  2. Adorei o texto, e apesar de na altura ter apenas 14 anos, conheço e reconheço pessoas e locais - um paraíso na terra, estou ainda hoje convencido que era isso esta cidade. Faltou falar do Chilo, o mulato vaidoso e adepto do motocross de Fabimor, do Bacalhau e do seu Triumph Herald descapotável que recolhia no cinzeiro moedas dos amigos para a gasolina, do Zé Carneiro e do Saab 96 em que íamos aos coelhos na Madame Berman, dos sumos da Castália que seguravam as palhinhas em pé, das caçadas com o Mendonça á 5a. feira de Mini MOke em que o fiscal Pinto ia para a picada no seu Citroen ID para nos poder apanhar... Que saudades - só faltou falar do Hitler e do seu cortiço na praia, e sobretudo das fantásticas miúdas de Benguela, a Preciosa que foi miss, a loira Sónia que era um pedaço de mau caminho, a Lolita, a Suzana, a Amália, e tantas outras que eram uma força da natureza.
    Artur Borges Pinto

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  3. Adorei, João Sá Pinto!

    Escrevo no http://cenasdavidafamiliar.blogspot.pt/

    e, por sorte, procurava "dicas" sobre Benguela para completar a conversa de consultório de um colega meu (que aí trabalhou em 53-75, nos Caminhos de Ferro)

    ADOREI, AMIGO, MUITO OBRIGADO PELO EXCELENTE TEXTO!

    jorge santos forreta

    Facebook: jorge santos forreta

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  4. Se me puder contatar pelo facebook: jorge santos forreta ,

    Agradeço.

    Gostava de escrever sobre Benguela.

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  5. Fantástica descrição.... parabéns João Sá Pinto.

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  6. Não sou desta época;mas sou nato de Benguela.Tenho a dizer que é um belo texto.

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  7. Gosto deste relato conheci a maioria das pessoas e coisas aqui mencionadas gostei de recordar coisas que já tinha esquecido

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  8. Adorei ler este comentario pois nele revi muitos nomes já esquecidos,obrigado amigo

    Humberto Jacinto

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  9. Adorei ler este comentario pois nele revi muitos nomes já esquecidos,obrigado amigo

    Humberto Jacinto

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  10. Tenho guardado e orgulho-me muito deste texto fabuloso de quem conheceu realmente Benguela.
    Mais uma vez, muito obrigada meu amigo querido João Sá Pinto.

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  11. É bom reviver coisas que já estavam esquecidas

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  12. Faltou falar da família Branco, que foi tão importante nessa cidade. Joaquim, José, Adelino, e Fortunato Branco que tiveram durante anos o comércio e a indústria de Benguela, nas suas mãos e que chegaram a ser chamados "donos de Benguela "

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  13. E do Clube de Portugal que foi fundado pelos irmãos Branco.

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  14. Preciso de ajuda de alguem que tenha nascido em Benguela e se recorde ainda muito bem dos nomes das ruas da cidade.
    O meu pai, de nome Antonio Monica Serra que era natural de Benguela faleceu este fim de semana. A sua maior tristeza foi ter deixado a terra que o viu nascer sem nunca ter tido oportunidade de lá voltar. Agora que ele partiu queremos cumprir o seu desejo: leva-lo de Volta.
    A maezinha esta muito velhinha e ja não se recorda do nome da rua onde viviamos. Eu sei que a rua ficava entre a Praia morena e o colegio das madres. Alguem me pode dizer o nome desta rua?
    Saiamos frequentemente para a praia, que ficava a esquerda da nossa casa, logo Ali a poucos metros...e nas voltinhas da noite saiamos a direita para apanhar a brisa nocturna, passeando pelo largo das doroteias.
    Sai de Angola aos onze anos de idade; o seu artigo trouxe-me a lembranca memorias preciosas.
    Obrigada.
    Cristina

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    1. Entre a Praia Morena e o Colégio da Madres havia muitas ruas.

      Se fôr a Rua Principal que ficava entre a Praia Morena e o Colégio das Madres é a Rua 5 de Outubro, agora Comandante Kassange

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  15. Vivi os melhores anos da minha vida em Benguela cidade e distrito (Ganda e Equimina), saí em 1961 para Luanda. Este delicioso artigo fez-me recordar coisas e pessoas em que de outra forma nunca mais recordaria. Obrigado por isso ao seu autor. Lembrei-me de mais algumas figuras inesquecíveis como o enfermeiro Ataíde que trabalhou em Benguela e na Baía Farta, do enfermeiro do Hospital de Benguela, Botelho e dos seus filhos, da Pastelaria Nevada, em frente ao Palácio do Comércio, com óptimos gelados, etc, etc, etc.

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